Ela sempre esteve comigo, mesmo quando eu a ignorava. Ficava na dela, quietinha num canto, onde fiz questão que ela ficasse. Nunca nos demos muito bem. Sempre quando ela chegava, logo queria saber quando ela iria embora. Mas ela não tinha data, nem hora marcada para chegar ou para ir. Com o tempo, aprendemos a conviver uma com a outra. Alguns dizem que eu ando com ela estampada no olhar, e não é mentira. A partir dela eu enxergo tudo a minha volta, vejo o mundo por meio dela. A velha e companheira melancolia de cada dia.
Já me acostumei com os dias mais bucólicos. Suas cores frias e amenas ressaltam diante dos meus olhos e fazem uma bela combinação com o outono que habita em mim. Minha alma se recusa a mudar de estações. Não se anima com a chegada do verão, não se lembra do brilho da primavera e não se acha resistente o suficiente para enfrentar o inverno. Outono é tudo o que ela conhece. Mais brando, mais calmo. Em transição. As folhas secas ao chão, o vento soando imponente a acariciar minha face trazendo o fôlego de sua companhia.
Amiga fiel de todas as horas, a melancolia nunca desampara. Não a confunda com tristeza, desânimo ou coisas negativas. É só um jeito diferente de sentir, de viver. Mais profundo, mais lúcido, embriagado da realidade. Por maior que seja a queda, ela sempre está preparada para resistir ao baque e aguentar firme. Não é de se assustar fácil. Nos momentos de tristeza, ela nos consola. Tem a habilidade de mostrar sempre um lado bom. A melancolia carrega uma sabedoria que nos leva sempre a refletir, nos tira do lugar comum. Nos coloca no lugar do outro, e nos humaniza.
Num mundo entorpecido de futilidades, uma dose de melancolia não faz mal a ninguém…