Não passe pela vida sem viver

Somos criados para vencermos na vida. Nascemos, e após sairmos do calor confortável do ventre de nossas mães, temos que nos adaptar ao novo lar, o caos. Mas, logo cedo, há uma cartilha para seguir, objetivos a atingir e metas que, para serem cumpridas, exigem de nós sermos melhores do que a concorrência, que não é pouca. E, na ânsia de nos adaptarmos a este mundo acelerado e complexo, corremos o perigoso risco de perder nossa identidade e de nos afastar da nossa essência.

Nessa maratona que é a vida, corremos atrás daquilo que achamos necessário para sermos felizes e completos, e nessa busca acabamos perdendo o que realmente importa. Não sabemos mais como foi o dia daqueles que dividem o mesmo teto conosco, não temos tempo para cultivar e cativar uns aos outros. Estamos cada dia mais conectados com o mundo e dispersos de nós mesmos.

Nossa mania de acumular coisas nos embriaga de uma ganância que anestesia a realidade e nos deixa sedentos pelo ter, possuir. Enquanto não descobrimos que a nossa sede pela plenitude da vida é saciada pelo ser, estar. É preciso utilizar a ação do verbo a nosso favor e conjugá-lo a todo momento, principalmente, o verbo amar, pois quando este não entra em cena, não vale a pena fazer parte da peça.

Temos ao nosso dispor todo tipo de informação, porém não sabemos tanto ao nosso respeito, limites e defeitos, quem dirá cogitar uma melhora, evoluir. Adotamos um discurso de politicamente correto que, em nome de uma pluralidade seletiva, fere a subjetividade alheia. Não compreendemos que cada ser é um universo multiverso e único, um singular no plural. Esquecemos que nossas diferenças nos igualam e, por isso, merecem respeito.

Nos chocamos com as tragédias das manchetes, choramos a morte de quem nunca vimos e somos incapazes de sentir a dor de um olhar vazio que perdeu a vontade de viver. Não é questão de adivinhar, ninguém tem bola de cristal. Mas a rotina do dia-a-dia tem nos furtado a sensibilidade de sentir e de dar sentido a nossas vidas.

Que não precisemos de um velório para relembrar bons momentos ou fazer um pedido de perdão. Que nosso orgulho seja sepultado em vida para que possamos gozá-la em sua plenitude. E que nossas mãos estejam sempre estendidas e nossos braços abertos, para juntar pedaços quebrados no calor de um abraço. 

Tudo isso parece um conjunto de velhos clichês, mas eles fazem parte da vida. E nunca é demais relembrá-los, pois temos a memória fraca por natureza.

Somos criados para vencermos na vida, só não nos avisaram que a maior derrota é passar por ela e não viver…

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