Anestesiar-se, às vezes, é vital. O tempo não pára e a vida não espera o trem voltar aos trilhos. Para conduzi-lo descarrilado é preciso mais cuidado, paciência e muita prudência. Coisa que não se aprende do dia para noite, mas a consequência de uma má condução pode ser eterna.
Contudo, eternidade é um conceito bonito, complexo e abstrato que usamos numa tentativa vã de demonstrar a intensidade de um tempo que não pertence a nós. E pertencer, nesse contexto, torna o verbo sem ação, ferindo a gramática, vazio de significado, uma vez que estamos de passagem nessa piada sem graça cheia da graça do viver. Portanto, não pertencemos. Estamos, somos, por enquanto e enquanto somente durar.
Que dure o olhar que abraça, o silêncio que acalenta e a verdade não ocultada. Que nada pertença, mas permaneça tudo o que for bom, agradável e leve. Que a espontaneidade gratuita nasça em solo infértil para cobranças, que paradoxalmente não existem justamente onde mais são invocadas.
Enquanto o trem não volta aos trilhos que se dê tempo ao tempo que não se tem, nem se controla. Apenas existe e resiste.