É preciso dar um tempo, apagar as luzes e sair um pouco de cena. Deixar a poeira abaixar, as vozes se calarem e esperar do silêncio as respostas que não queremos ouvir. Aos poucos, elas tornam-se claras o suficientes para serem encaradas de frente, de peito aberto e cabeça erguida. Como uma criança dando os seus primeiros passos, é necessário engatinhar em direção ao reconhecimento dos nossos erros.
Assumir a responsabilidade de nossos atos é o primeiro passo para o amadurecimento que nos ensinará a aprender com as nossas falhas e a não repetí-las novamente. Não é um exercício fácil, durante o percurso podemos nos ferir e ganhar algumas cicatrizes, mas são elas que nos lembram que, apesar dos pesares, resistimos, e somos capazes de dar a volta por cima e seguirmos em frente.
Sem a pretensão de dizer quais são os segredos da vida, é essencial reconhecer que, certamente, um deles é a dádiva de aprender a recomeçar, sempre. Não temos o poder de evitar alguns finais, mas podemos escrever quantos recomeços quisermos, enquanto o coração ainda pulsar dentro peito. Só depende de nós. Porém, ao invés de solução, na maioria das vezes, este é um dos maiores problemas.
Como é difícil lutar contra nós mesmos, enfrentar nossos fantasmas e encarar nossas mazelas. Nos tornamos prisioneiros de nossas próprias projeções, nos decepcionamos quando o mundo não corresponde às expectativas que criamos. Agimos como se ele girasse somente em nosso torno, e, quando somos confrontados pela realidade, sentimos o gosto amargo da frustração cultivada por nós mesmos.
Quando isso acontece, corremos o risco de sobrevivermos sem vida, passar por ela e não sentí-la em sua plenitude. Talvez, nesse momento, a dor do sofrimento seja o caminho de volta para nos reencontrarmos. Lembrar que estamos vivos e que não somos o centro do mundo pode ajudar a mudarmos de atitude. Enquanto não formos sinceros conosco, continuaremos a nos embriagar com nossas mentiras. Elas são como um veneno que, à conta gotas, nos mata aos poucos, ao ponto de acreditarmos nelas.
Diariamente, vestimos nossas máscaras e interpretamos nosso papel fingindo que está tudo bem. É preciso deixar a máscara cair e rasgar todo roteiro que escrevemos com a pretensão de controlarmos nossas vidas, porque não temos o poder de fazê-lo. Temos que aprender a dançar conforme a música toca. Adaptação é vida e viver é se transformar um dia após o outro.